Página:Amor de Perdição (1862).pdf/33

Wikisource, a biblioteca livre

a travar a lucta desigual, porque, a esse tempo, Luiz Pinto de Sousa, mais tarde visconde de Balsemão, negociara ignominiosa paz em Badajoz, com cedencia de Olivença á Hespanha, exclusão de inglezes dos nossos portos, e indemnisação de alguns milhões á França.

Estes successos tinham irritado contra Napoleão os animos d’aquelles que odiavam o aventureiro, e para outros deram causa a congratularem-se do rompimento com Inglaterra. Entre os d’esta parcialidade, na convulsiva e irriquieta academia, era voto de grande monta Simão Botelho, apesar dos seus imberbes dezeseis annos. Mirabeau, Danton, Robespierre, Desmoulins, e muitos outros algozes e martyres do grande açougue, eram nomes de soada musical aos ouvidos de Simão. Diffamal-os na sua presença era affrontarem-no a elle, e bofetada certa, e pistolas engatilhadas á cara do diffamador. O filho do corregedor de Vizeu defendia que Portugal devia regenerar-se n’um baptismo de sangue, para que a hydra dos tyrannos não erguesse mais uma das suas mil cabeças sob a clava do Hercules popular.

Estes discursos, arremêdo d’alguma clandestina objurgatoria de Saint-Just, afugentavam da sua communhão aquelles mesmos que o tinham applaudido em mais racionaes principios de liberdade. Simão Botelho tornou-se odioso aos condiscipulos que, para se salvarem pela infamia, o delataram ao bispo-conde, reitor da universidade.