Página:Amor de Perdição (1862).pdf/46

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— Os nossos corações penso eu que estão unidos; agora é preciso que as nossas casas se unam.

Thereza impallideceu, e baixou os olhos.

— Acaso lhe diria eu alguma coisa desagradavel?! — proseguiu Balthazar, rebatido pela desfiguração de Thereza.

— Disse-me o que é impossível fazer-se — respondeu ella sem turvação — O primo engana-se: os nossos corações não estão unidos. Sou muito sua amiga, mas nunca pensei em ser sua esposa, nem me lembrou que o primo pensava em tal.

— Quer dizer que me aborrece, prima Thereza? — atalhou corrido o morgado.

— Não, senhor: já lhe disse que o estimava muito, e por isso mesmo não devo ser esposa d’um amigo a quem não posso amar. A infelicidade não seria só minha...

— Muito bem... Posso eu saber — tornou com refalsado sorriso o primo — quem é que me disputa o coração de minha prima?

— Que lucra em o saber?

— Lucro saber, pelo menos, que a minha prima ama outro homem... é exacto?

— É.

— E com tamanha paixão que desobedece a seu pae?

— Não desobedeço: o coração é mais forte que a submissa vontade de uma filha. Desobedeceria, se casasse contra a vontade de meu pae; mas eu não disse ao primo