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Balthazar que casava; disse-lhe unicamente que amava.

— Sabe a prima que eu estou espantado do seu modo de dizer!... quem pensaria que os seus dezeseis annos estavam tão abundantes de palavras!...

— Não são só palavras, primo — retorquiu Thereza com gravidade — são sentimentos que merecem a sua estima, por serem verdadeiros. Se lhe eu mentisse ficaria mais bem vista de meu primo?

— Não, prima Thereza; fez bem em dizer a verdade, e de a dizer em tudo. Ora, olhe, não duvída declarar quem é o ditoso mortal da sua preferencia?

— Que lhe faz saber isso?

— Muito, prima: todos temos a nossa vaidade, e eu folgaria muito de me vêr vencido por quem tivesse merecimentos que eu não tenho aos seus olhos. Tem a bondade de me dizer o seu segredo, como o diria a seu primo Balthazar, se o tivesse em conta do seu amigo intimo?

— N’essa conta é que eu o não posso já ter... — respondeu Thereza, sorrindo e contando, como elle, as syllabas das palavras.

— Pois nem para amigo me quer?!

— O primo não me perdoa a sinceridade que eu tive, e será de hoje em diante meu inimigo.

— Pelo contrario... — tornou elle com mal rebuçada ironia — muito pelo contrario... Eu lhe provarei que sou seu amigo, se alguma vez a vir casada com algum miseravel indigno de si.