Página:Amor de Perdição (1862).pdf/53

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para dar ao author de seus dias um resto de velhice feliz. O silencio de Thereza era interrogador.

— Vais hoje dar a mão de esposa a teu primo Ballhazar, minha filha. É preciso que te deixes cegamente levar pela mão de teu pae. Logo que déres este passo difficil, conhecerás que a tua felicidade é d’aquellas que precisam ser impostas pela violencia. Mas repara, minha querida filha, que a violencia de um pae é sempre amor. Amor tem sido a minha condescendencia e brandura para comtigo. Outro teria subjugado a tua desobediencia com maus tractos, com os rigores do convento, e talvez com o desfalque do teu grande patrimonio. Eu, não. Esperei que o tempo te aclarasse a razão, e felicito-me de te julgar desassombrada do diabolico prestigio do maldito, que acordou o teu innocente coração. Não te consultei outra vez sobre este casamento, por temer que a reflexão fizesse mal ao fervor de boa filha com que tu vais abraçar teu pae, e agradecer-lhe a sisudez com que elle respeitou o teu genio, velando sempre a hora de te encontrar digna do seu amor.

Thereza não desfitou os olhos do pae; mas tão abstrahida estava, que escassamente lhe ouviu as primeiras palavras, e nada das ultimas.

— Não me respondes, Thereza?!- tornou Thadeu, tomando-lhe caridosamente as mãos.

— Que hei-de eu responder-lhe, meu pae? — balbuciou ella.