Página:Amor de Perdição (1862).pdf/54

Wikisource, a biblioteca livre

— Dás-me o que te peço? enches de contentamento os poucos dias que me restam?

— E será o pae feliz com o meu sacrificio?

— Não digas sacrificio, Thereza... A’manhã a estas horas verás que transfiguração se fez na tua alma. Teu primo é um composto de todas as virtudes; nem a qualidade de ser um gentil moço lhe falta, como se a riqueza, a sciencia e as virtudes não bastassem a formar um marido excellente.

— E elle quer-me, depois de eu me ter negado? — disse ella com amargura ironica.

— Se elle está apaixonado, filha!... e tem bastante confiança em si para crêr que tu has de amal-o muito!...

— E não será mais certo odial-o eu sempre!? Eu agora mesmo o abomino como nunca pensei que se podesse abominar! Meu pae... — continuou ella, chorando, com as mãos erguidas — mate-me; mas não me force a casar com meu primo! E’ escusada a violencia, porque eu não caso!..

Thadeu mudou de aspecto, e disse irado:

— Hás de casar! Quero que cases! Quero!... Quando não, amaldiçoada serás para sempre, Thereza! Morrerás n’um convento! Esta casa irá para teu primo! Nenhum infame ha de aqui pôr um pé nas alcatifas de meus avós. Se és uma alma vil, não me pertences, não és minha filha, não podes herdar appellidos honrosos, que foram pela primeira vez insultados pelo pae d’esse miseravel