Página:Amor de Perdição (1862).pdf/66

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Velou Thereza o restante da noite, escrevendo a Simao a detida historia dos seus terrores, e pedindo-lhe perdão de o ella não ter advertido do baile, por fcar doida de alegria com a sua vinda. No tocante ao plano de se encontrarem na seguinte noite não havia alteração na carta. Isto espantou o academico. A seu vêr, o vulto era Balthazar Coutinho, e o pae de Thereza devia ser avisado n’aquella mesma noite.

Respondeu elle contando a historia do incidente com o encapelado; receando, porém, assustar Thereza e gorar a entrevista, escreveu nova carta, em que não transluzia mêdo de ser atacado, nem sequer receio de marear-lhe a fama. Quiz parecer a Simão Botelho que este era o digno porte de um amante corajoso.

Passou o estudante aquelíe dia contando as longas horas, e meditando instantes nos funestos resultados que podia ter a sua temeraria ida, se Balthazar Coutinho era aquelle homem, que reservára para melhor relance a vingança da provocação insolente. Mas de si para si tinha elle que pensar em tal era mais covardia que prudencia.

O ferrador tinha uma filha, moça de vinte e quatro annos, e formas bonitas, e um rosto bello e triste. Notou Simão os reparos em que ella se demorava a contemplal-o, e perguntou-lhe a causa d’aquelle olhar melancolico com que ella o fitava. Marianna corou, abriu um sorriso triste, o respondeu: