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— Não sei o que me adivinha o coração a respeito de v. s.^a Alguma desgraça está para lhe succeder.

— A menina não dizia isso — replicou Simão — sem saber alguma coisa da minha vida.

— Alguma coisa sei... — tornou ella.

— Ouviu contar ao arreeiro?

— Não, senhor. E’ que meu pae conhece o paesinho de v. s.^a, e tambem conhece o senhor. E ha bocadinho que eu ouvi estar meu pae a dizer a meu tio, que é o arreeiro que veio com v. s.^a, que tinha suas razões para saber que alguma desgraça lhe estava para acontecer...

— Porque?

— Pr’amor d’uma fidalga de Vizeu, que tem um primo em Castro-d’Aire.

Simão espantou-se da publicidade do seu segredo, e ia colher pormenores do que elle julgava mysterio entre duas familias, quando o mestre ferrador João da Cruz entrou no sobrado, onde o precedente dialogo se passára. A môça, como ouvisse os passos do pae, sahira lestamente por outra porta.

— Com sua licença — disse mestre João.

Dizendo, fechou por dentro ambas as portas, e sentou-se sobre uma arca.

— Ora, meu fidalgo — continuou elle, descendo as mangas arregaçadas da camiza, e apertando-as com difficuldade nos grossos pulsos, como quem sabe as exigencias