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— É verdade! - accrescentou o outro.

— Se elle vier a pé, eu lhes darei aviso para o seguirem depois até o terem a geito de tiro, mas longe d’aqui, percebem vocês? — disse Balthazar Coutinho.

— Sim, senhor; mas se elle sáe de casa do pae, e entra sem nos dar tempo?

— Tenho a certeza de que não está em casa do pae, já lh’o disse. Basta de palavriado. Vão esconder-se atraz da igreja, e não adormeçam.

Debandou o grupo, e Balthazar ficou alguns momentos encostado ao muro. Soaram os tres quartos depois das dez. O de Castro-d’Aire collou o ouvido á porta, e retirou-se acceleradamente, ouvindo o rumor da folhagem sêcca que Thereza vinha pizando.

Apenas Balthazar, cosido com o muro, desapparecêra, um vulto assomou do outro lado a passo rapido. Não parou: foi direito a todos os pontos onde uma sombra podia figurar um homem. Rodeou a igreja que estava a duzentos passos de distancia. Viu os dois vultos direitos com o recanto que formava a juncção da capella mór, e sobre o qual cabiam as sombras da torre. Fitou-os de passagem, e suspeitou; não os conheceu; mas elles disseram entre si, depois que elle desapparecêra:

— É o João da Cruz, ferrador, ou o diabo por elle!...

— Que fará a esta hora por aqui?!

— Eu sei!

— Não desconfias que elle entre n’isto?