Página:Amor de Perdição (1862).pdf/85

Wikisource, a biblioteca livre

— Vamos embora — tornou Simão — deixemos para ahi esse miseravel.

Mestre João scismou alguns momentos, coçando a cabeça, e resmungou com descontentamento:

— Vamos lá... Quem o seu inimigo poupa, nas mãos lhe morre.

Tinham já sahido do plaino e saltado a tapada, e iam descendo para a estrada, quando o ferrador exclamou:

— Lá me ficou a minha clavina encostada á sebe. Vão indo, que eu venho já.

O arreeiro conduzia o cavallo, que pacificamente estivera tozando a relva das paredes marginaes da estrada, quando Simão ouviu gritos. Conjecturou com certeza o que era.

— O João lá está a fazer justiça! — disse o arreeiro. Deixál-o lá, meu amo, que elle é homem que sabe o que faz.

João da Cruz appareceu d’ahi a pouco, limpando com fentos o podão ensanguentado.

— Você é cruel, senhor João! — disse o academico.

— Não sou cruel — disse o ferrador — o fidalgo está enganado comigo; é que diz lá o dictado, morrer por morrer, morra meu pae que é mais velho. Tanto faz matar um como dois. Quando se está com a mão na massa, tanto faz amassar um alqueire como tres. As obras devem ser acabadas, ou então o melhor é não se metter a gente n’ellas. Agora, levo a minha consciencia socegada.