Página:Amor de Perdição (1862).pdf/84

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— Com a forca!? — atalhou Simão.

— Podéra não! Quer que este homem fique para ir contar a historia? Acha bonito? Lá v. s.^a, como é filho de ministro, não terá perigo; mas eu, que sou ferrador, posso contar que d’esta vez tenho o baraço no pescoço. Não me faz geito o negocio. Deixe-me cá com o homem...

— Não o mate, senhor João; peço-lhe eu que o deixe ir. Uma testemunha não nos póde fazer mal.

— O quê? — redarguiu o ferrador — v. s.^a saberá muito, mas de justiça não sabe nada, e ha de perdoar o meu atrevimento. Basta uma só testemunha para guiar a justiça na devassa. Ás duas por tres, uma testemunha de vista, e quatro de ouvir dizer, com o fidalgo de Castro-d’Aire a mexer os pausinhos, é forca certa, como dois e dois serem quatro.

— Eu não digo nada; não me matem, que eu nem torno a ir para Castro-d’Aire — exclamou o homem.

— Deixe-o ficar, João da Cruz... vamos embora...

— Isso! — acudiu o ferrador — chame-me João da Cruz, para este maroto ficar bem certo de que sou o João da Cruz!... Com effeito, não sei o que me parece v. s.^a querer deixar com vida um alma do diabo que lhe deu um tiro para o matar!

— Pois sim, tem você razão; mas eu não sei castigar miseraveis que me não resistem.

— E se elle o tivesse matado, castigava-o? Responda a isto, senhor doutor!