Página:Amor de Perdição (1862).pdf/83

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em redor do escondrijo. Já cansado, porém, e vendo o pouco luzimento do trabalho, disse ao arreeiro:

— Petisca lume, vai alli dentro buscar um pouco de restolho sêcco, e vamos pegar fogo ao mato, que este ladrão ha de morrer assado.

O perseguido, quando tal ouviu, tirou do maior perigo coragem para fugir, rompendo a espessura e saltando a parede da tapada para o campo de restolho em que o arreeiro andava apanhando palha, e Simão esperava o desfecho da montaria. Correram a um tempo o arreeiro e o academico sobre elle. O fugitivo, sentindo-se alcançado, lançou-se de joelhos e mãos erguidas, pedindo perdão, e dizendo que o amo o obrigára áquella desgraça. Já a coronha do bacamarte do arreeiro lhe ia direita ao peito, quando Simão lhe reteve o braço.

— Não se bate assim n’um homem! — disse o moço — Levanta-te, rapaz!

— Eu não posso, senhor. Tenho uma perna quebrada, e estou aleijado para a minha vida.

N’este comenos chegou o ferrador, e exclamou:

— Pois este tratante ainda está vivo!

E correu sobre elle com o podão.

— Não mate o homem, senhor João! — disse o filho do corregedor.

— Que o não mate! essa é de cabo de esquadra! Com que então o fidalgo quer pagar-me com a forca o favor de o acompanhar... eim?