Página:Amor de Perdição (1862).pdf/82

Wikisource, a biblioteca livre

Correu mestre João, e ao mesmo tempo uma grande rostilhada se fez entre as moitas de codêços e urzes.

— Elle estrinça lenha como um porco do monte! — exclamou o ferrador. — Ó cunhado, bate este matto com alguns penedos; quero vêr sahir o javali da moita!...

Para o outro lado da bouça estava um plaino cultivado. Simão, rodeando a sebe, conseguira saltar ao campo por sobre a pedra d’um agueiro.

— Tenha lá mão, mestre; não vá você atirar-me! — bradou Simão ao ferrador.

— Pois o fidalgo já ahi anda!?. Então está fechado o cêrco. Eu cá vou fazer de furão. Se este nos escapa, não ha nada seguro n’este mundo!

Não se enganaram. O criado de Balthazar Coutinho, quando se atirára desamparado á brenha, desnocára um joelho, e cahira atordoado. O arreeiro não examinou o effeito do tiro, porque atirara á ventura, e achava natural que o fugitivo se não molestasse. Quando volveu a si do aturdimento da queda, o homem arrastou-se lentamente até encontrar um cerrado de arvores silvestres, em que pernoitava a passarinhada. Como os melros cacarejassem esvoaçando, o criado de Balthazar retrocedeu para o mato, cuidando que ahi escaparia; mas o arreeiro jogava enormes calhaus em todas as direcções, e alguns acertavam mais que as balas do seu bacamarte. João da Cruz tirou do bolço da jaqueta um podão, e começou a cortar a selva de carvalhas novas e giestaes que se emmaranhavam