responderam, saltei para terra; mas ainda eu tinha um pé no estribo quando me fizeram fogo. Quiz saltar á ribanceira, mas não pude romper o matto. Dei uma volta grande para achar subida, e foi então que dei fé de estar ferido...
— Isto é uma arranhadura — disse João da Cruz — olhe que eu sei d’isto, fidalgo! Estou affeito a curar muitas feridas.
— Nos burros, mestre João? — disse o ferido, sorrindo.
— E nos christãos tambem, senhor doutor. Olhe que houve em Portugal um rei que não queria outro medico senão um alveitar. Hei de mostrar-lhe o meu corpo que está uma rêde de facadas, e nunca fui ao cirurgião. Com ceroto e vinagre sou capaz de ir resuscitar aquelle alma do diabo que alli está a escutar a cavallaria.
N’isto ouviu-se um leve rumor de folhagem no matagal para onde tinha saltado o companheiro do morto.
João da Cruz, como galgo de fino olfacto, fitou a orelha e resmungou:
— Querem vocês vêr que ellas se armam!... Dar-se-ha caso que o outro ainda esteja por alli a tremer maleitas!...
O rumor continuou, e logo um bando de passaros rompeu d’entre a folhagem chilreando.
— O homem está alli! — tornou o ferrador. — Passe-me cá uma pistola, senhor Simão!