Página:Amor de Perdição (1862).pdf/95

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— Mas a nossa madre — tornou Thereza, sorrindo, como se a ironia lhe fosse habitual — já disse que a estas casas ninguem vem para se sentir bem...

— É um modo de fallar, menina. Todos temos as nossas mortificações e obrigações de côro e de serviços para que nem sempre o espirito está bem disposto. Ora vês-a-hi. Mas em comparação do que lá vai pelo mundo, o convento é um paraizo. Aqui não ha paixões nem cuidados que tirem o somno, nem a vontade de comer, bemdito seja o Senhor! Vivemos umas com as outras, como Deus com os anjos. O que uma quer, querem todas. Más linguas é coisa que a menina não ha de achar aqui, nem intriguistas, nem murmurações de soalheiro. Emfim, Deus fará o que fôr servido. Eu vou á cosinha buscar a ceia da menina, e já volto. Aqui a deixo com a senhora madre organista, que é uma pomba, e com a nossa mestra de noviças, que sabe dizer melhor que eu o que é a virtude n’estas santas casas.

Apenas a prioreza voltou costas, disse a organista á mestra de noviças:

— Que grande impostora!

— E que estupida! — acudiu a outra. — A menina não se fie n’esta trapalhona, e veja se seu pae lhe dá outra companhia em quanto cá estiver, que a prioreza é a maior intriguista do convento. Depois que fez sessenta annos, falla das paixões do mundo como quem as conhece por dentro e por fóra. Em quanto foi nova, era a freira