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— Mas quem vem para estas casas de Deus não vem para se sentir bem — tornou a nossa madre prioreza.

— Não?! — disse Thereza com sincera admiração.

— Quem para aqui vem, menina, ha de mortificar o espirito, e deixar lá fóra as paixões mundanas. Ora pois! Aqui está a nossa madre mestra de noviças, a quem compete encaminhal-a e dirigil-a.

Thereza não redarguiu: fez um gesto de respeito á mestra de noviças, e seguiu o caminho que a prelada lhe ia indicando.

A nossa madre entrou nos seus aposentos, e disse a Thereza que era sua hospeda em quanto alli estivesse; e ajuntou que não sabia se seu pae escolheria aquelle convento ou outro.

— Que importa que seja um ou outro? — disse Thereza.

— É conforme. Seu pae póde querer que a menina professe em ordem rica das bentas ou bernardas.

— Professe! — exclamou Thereza. — Eu não quero ser freira aqui, nem n’outra parte.

— A senhora ha de ser o que seu pae quizer que seja.

— Freira!? a isso não póde ninguem obrigar-me! — recalcitrou Thereza.

— Isso assim é — retorquiu a prioreza — mas como a menina tem de noviciado um anno, sobra-lhe tempo para se habituar a esta vida, e verá que não ha vida mais descansada para o corpo, nem mais saudavel para a alma.