Página:Amor de Perdição (1862).pdf/93

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Teu mano tem a certeza de que eu amo outro homem. Queria viver para elle; mas se quizerem que eu morra por elle, abençoarei todos os meus algozes. Pódes dizer isto ao primo Balthazar, e diz-lh’o antes que te esqueça.

— Então, vamos?! — disse o velho.

— Estou prompta, meu pae.

Abriu-se a portaria do mosteiro. Thereza entrou sem uma lagrima. Beijou a mão de seu pae, que elle não ousou recusar-lhe na presença das freiras. Abraçou suas primas, com semblante de regosijo; e, ao fechar-se a porta, exclamou, com grande espanto das monjas:

— Estou mais livre que nunca. A liberdade do coração é tudo.

As freiras olharam-se entre si, como se ouvissem na palavra «coração» uma heresia, uma blasphemia proferida na casa do Senhor.

— Que diz a menina?! — perguntou a prioreza, fitando-a por cima dos oculos, e apanhando no lenço escarlate a distillação do esturrinho.

— Disse eu que me sentia aqui muito bem, minha senhora.

— Não diga minha senhora — atalhou a escrivã.

— Como hei de dizer?

— Diga «nossa madre prioreza.»

— Pois sim, nossa madre prioreza, disse eu que me sentia aqui muito bem.