Página:Amor de Perdição (1862).pdf/97

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experiencia do que vê penar ás outras doidibanas. E para não ir mais longe, estas duas, que d’aqui sahiram, tem pagado bem o seu tributo á asneira, Deus me perdôe se pécco. A organista tem já os seus quarenta bons, e ainda vai ao locutorio derreter-se em finezas; a outra, apesar de ser mestra de noviças á falta d’outra que quizesse sêl-o, se eu lhe não andasse com o olho em cima, estragava-me as raparigas...

Este edificante discurso de caridade foi interrompido pela madre escrivã que vinha, palitando os dentes, pedir á prelada um copinho de certo vinho estomacal com que todas as noites era brindada.

— Estava eu a dizer a esta menina as peças que são a organista e a mestra — disse a prioreza.

— Oh! são para o que lhe eu prestar! Lá foram ambas para a cella da porteira. A esta hora está a menina a ser cortada por aquellas linguas, que não perdoam a ninguem.

— Vaes tu vêr se ouves alguma coisa, minha flôr? — disse a prelada.

A escrivã, contente da missão, foi imperceptivelmente ao longo dos dormitorios até parar a uma porta que não vedava o ruido estridente das risadas.

No entanto dizia a prelada a Thereza:

— Esta escrivã não é má rapariga: só tem o defeito de se tomar da pinguleta; depois não ha quem a ature. Tem uma boa tença, mas gasta tudo em vinho, e tem