Página:Amor de Perdição (1862).pdf/98

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occasiões de entrar no côro a fazer ss, que é mesmo uma desgraça. Não tem outro defeito; é uma alma lavada, e amiga da sua amiga. É verdade que ás vezes... (aqui a prelada ergueu-se a escutar nos dormitorios, e fechou por dentro a porta) é verdade que, ás vezes, quando anda azuratada, dá por paus e por pedras, e descobre os defeitos das suas amigas. A mim já ella me assacou um aleive, dizendo que eu, quando sahia a ares, não ia só a ares, e andava por lá a fazer o que fazem as outras. Forte pouca vergonha! Lá que outra fallasse, vá; mas ella, que tem sempre uns namorados pandilhas que bebem com ella na grade, isso lá me custa; mas, emfim, não ha ninguem perfeito!... Boa rapariga é ella... Se não fosse aquelle maldito vicio...

Como tocasse ao côro n’esta occasião, a veneranda prioreza bebeu o segundo calice do vinho estomacal, e disse a Thereza que a esperasse um quarto de hora, que ella ia ao côro, e pouco se demoraria. Tinha ella sahido, quando a escrivã entrou a tempo que Thereza, com as mãos abertas sobre a face, dizia em si: «Um convento, meu Deus! isto é que é um convento!»

— Está sósinha? — disse a escrivã.

— Estou, minha senhora.

— Pois aquella grosseira vai-se embora, e deixa uma hospeda sósinha? Bem se vê que é filha de funileiro!... Pois tinha tempo de ter prática do mundo, que tem andado