Página:Amor de Perdição (1862).pdf/99

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por lá que farte... Pois eu havia de ir ao côro; mas não vou para lhe fazer companhia, menina.

— Vá, vá, minha senhora, que eu fico bem sósinha — disse Thereza, com a esperança de poder desafogar em lagrimas a sua afflicção.

— Não vou, não!... A menina aqui estarrecia de mêdo; mas a prelada não tarda ahi. Ella, se póde escapar-se do côro, não pára lá muito tempo. A apostar que ella lhe esteve a fallar mal de mim?

— Não, minha senhora, pelo contrario...

— Ora diga a verdade, menina! Eu sei que esta cegonha não falla bem de ninguem. Para ella tudo são libertinas e bebadas.

— Nada, não, minha senhora; nada me disse a respeito d’alguma freira.

— E se disse, deixal-a dizer. Ella o vinho não o bebe, suga-o, é uma esponja viva. Em quanto a libertinagem, tomára eu tantos mil cruzados como de amantes ella tem tido! Faz lá uma pequena ideia, menina!...

A escrivã bebeu um calice de vinho da sua prelada, e continuou:

— Faz lá uma pequena ideia! Ella é velhissima como a sé. Quando eu professei já ella era velha como agora, com pouca differença. Ora, eu sou freira ha vinte e seis annos; calcule a menina quantas arrobas de esturrinho ella tem atulhado n’aquelles narizes! Pois olhe, quer me creia, quer não, tenho-lhe conhecido mais de uma duzia