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Página:Ana de Castro Osório - Ás Mulheres Portuguêsas (1905).pdf/144

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Ás mulheres portuguêsas

Não ha muitos invernos que numa barraca alugada pelo mesmo preço exorbitante a uma familia de pescadores, choveu tanto, em noite de temporal, que o marido e a mulher tiveram de abrigar-se sob um chapéo de chuva, metendo os filhos debaixo da cama para não ficarem completamente encharcados.

Chega a dar vontade de rir, mas do riso que é de lagrimas e de amarguradas censuras tecido; o mesmo riso que se nos esboça numa lástima vendo uma criança deslocar-se em acrobatices de circo.

Quantas gerações de miseria e servidão produziram a indiferença resignada com que se sofre uma existencia de tais alegrias entretecida.

Depois, se numa destas habitações se dá um caso de doença contagiosa, vem a policia, a pretexto de desinfeção, rouba aos pobres a sua unica cobertura, queima-lhe a unica enxerga, despedaça-lhe a pouca loiça, borrifando paredes, sobrados e moveis com sublimado corrosivo!...

Urgente seria organisar a fiscalisação sani-