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Página:Ana de Castro Osório - Ás Mulheres Portuguêsas (1905).pdf/182

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Ás mulheres portuguêsas

que sabe curtir para a fartura do anno; concordo em que esta mulher se riria desrespeitosamente se á sua merenda chamassem lanche e em vez destas simples iguarias comidas á mão, lhe apresentassem um prato de porcelana fina com brioches e um bule de perfumoso chá.

Talvez deitasse o liquido fóra cuidando que devia comer as folhas, e levasse os bolos para o folar das crianças.

Mas o que é cérto é que bem poucos têm essa abundancia, e que a maioria, principalmente aquellas que a industria apanhou na sua febril engrenagem e na oscilação das suas altas e baixas de trabalho; não têm esse bocado de pão grosseiro, nem esse saboroso queijo salgado...

Não comer manjares poderá ser justo, mas passar sem comer é intoleravel.

Ninguem se habitúa á desgraça e á dôr; ha no organismo humano uma revolta ináta ao sofrimento, que nos faz chorar e estrebuchar a cada nóva vergastada do destino.

Existem criaturas resignadas e passivas, seres embrutecidos pela miseria ou fracos por