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Página:Ana de Castro Osório - Quatro Novelas (1908).pdf/14

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A VINHA

tram a propria dôr e só têm para a dos outros carinho e consolo.

Se o Luis soubesse o que ella sofria, ficando ali a vê-lo partir, debruçado na portinhola da carroagem e ainda a recomendar-lhe as suas coisas — os animais, as flôres, os brinquedos abandonados!... Se elle soubesse como a pequena sentia já a solidão em que ia ficar, naquella pobre terra sem diversões e sem conhecimentos, ella que não cultivara mais amizades infantis álêm da delle!...

Nos primeiros tempos as cartas amiudavam-se: elle, contando tudo quanto via de novo e o trazia em contínua sobreexcitação, em duas linhas sugestivas, sempre apressado por falta de paciencia para escrever; ella, narrando detalhadamente os pequenos casos domesticos, que tanto interesse despertam sempre ás crianças. Eram recordações de passeios e brinquedos, a relação de todas as pessoas avistadas, os amigos da casa quo perguntavam sempre por elle, os seus recados, as suas proprias palavras.

Luis bem o conhecia: eram verdadeiros recados aquelles, — não banalidades ceremoniosas — que evocavam, á sua recordação saudosa, as figuras amigas que as enviavam, de longe.

Depois, no fim das cartas, como repique festivo de sinos em vespera de dia santo, a