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misericórdia com a calúnia, com as figuras de pensamentos vacilantes e de discursos claudicantes. Demonstra o vício que as instituições oficiais já mantinham, de morosidade, da falta de preocupação com aqueles para os quais elas existem. “Dr. Da Saúde, mais saúde de dever, quando se trata de saúde”. (ALVES, 2013, p. 79).

Dos 22 “Piparotes”, crônicas-cascudos, contrapondo a “Voz do povo”, desejosa de mudanças, com a “Noz do povo”, metáfora da iniciativa do imperador de “dar nozes à quem não tem dentes” (2013, p. 87), vê-se o desejo de “[...] esvergalhar com a crítica a hipocrisia que amolece o cérebro e a religiosidade automática que cega a razão e faz abismá-la no antro da dúvida” (“Piparote 2”, 2013, p. 81-82). Tratam ainda de acontecimentos rotineiros ou regionais, como festins religiosos, de uma declaração idiota feita por um local; reclama das condições deploráveis de higiene e conservação de bens públicos; faz críticas a espetáculos; trata da agenda de festas; de informação sobre recebimento de verba para uma localidade; de recebimento de livros, de periódicos de outros clubs de ideologia similar à do poeta; noticia a entrega de cartas de liberdade; o atendimento a reclamações, a inauguração de estabelecimento cultural, os atos administrativos sem propósitos, entre outros. Mas aborda grandes questões de seu tempo, como a indenização que os “possuidores de escravos” receberiam, após a abolição: “E quem indenizou os míseros escravos da sua eterna noite de treva, das suas agonias, das suas aflições, das suas lágrimas?!” (ALVES, 2013, p. 87).

Na seção “Outros textos”, os escritos parecem mais ensaísticos, exposição mais desenvolvida, mais literária de temas como: instrução pública, em que trata da educação naquilo como se dá e como deveria ser; a chegada da primavera ou mesmo a estação de colheita, do renascimento da natureza em cores diversas em relação ao olhar atormentado do homem ou apenas visão otimista sobre a natureza; sobre as crianças, em que é lançado um olhar nostálgico sobre a infância, sua educação, sua generosidade, em relação ao “doloroso e pungente pessimismo humano” de seu mestre; casas, em que debate a questão da luta da população por moradia pela elevação dos preços dos aluguéis; ainda, críticas de mais fôlego a outros escritores e obras; a vida; o sol; o amor etc. Cores, sabores, ecos, ritmos, sons, expressão poética e artística. Com escritos menos cáusticos e irônicos, menos sarcásticos ou zombeteiros, esta seção possui textos mais fluidos, menos tensos porque o “cálculo” da expressão é outro.

A segunda parte do livro é composta dos versos do poeta que, por algum motivo, não

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Anu. Lit., Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 198-202, 2016. ISSNe 2175-7917