Página:Ao correr da pena.djvu/154

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casinhas tão alvas e com suas janelinhas verdes, que se destacam aqui e ali pela beira do caminho, ou pela margem dos canais.

A barquinha de vapor corta ao largo resvalando docemente pela flor d'água, mas sem aquela excessiva velocidade que dá aos objetos um aspepainel magnífico iluminado pela esplêndida claridade dos raios do sol.

Aqui e ali aponta sobre todo aquele confuso e variado panorama da cidade a torre de alguma igreja ou a cruz singela de algum campanário, como para advertir ao viajante que do meio das saudades da pátria, da família, ou de algum ente que se idolatra, o pensamento deve erguer-se a Deus no momento da partida.

Ali, onde as vagas se desfazem em alvos flocos de espumas, estão as Feiticeiras, célebres na crônica do mundo elegante, pelo quase naufrágio do Guarani. Quantas feiticeiras não conheço eu mesmo em terra, que já produziram e são capazes de produzir ainda mais terríveis naufrágios! Há, porém, entre estas e aquelas, duas pequenas diferenças. A primeira é que em umas morre-se pela água, nas outras pelo fogo. A segunda diferença é muito mais curiosa. Nas feiticeiras do mar o Guarani salvou-se por ser um barco novo; nas feiticeiras de terra são justamente os barcos novos os que correm maior perigo.

Perdoai-me esta observação humorística, meu amável leitor e companheiro de viagem; prometo-vos que será a última. Abandonemos de uma vez, com os olhos e com o pensamento, esta cidade que já não tem encantos para nós. Quereis o belo sob outras formas, quereis a natureza da nossa terra em outros quadros? Lançai os olhos por este vasto estendal