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Rio, 8 de janeiro de 1855.

Et une annèe entière a replié ses ailes
Dans l'ombre d'une seule nuit!
(Lamartine)

Ainda vos lembrais do ano passado? Ainda não esquecestes a última noite de 1854?

Era uma noite de luar, mas turva e carregada. O céu cobria-se de nuvens. A natureza estava calma e sossegada. As horas corriam silenciosamente.

Deu meia-noite. Um ano terminava, um ano começava. Mas nem um sinal, nem um vestígio atestava essa grande revolução do tempo que se acabava de consumar.

Tudo continuava tranqüilo. A noite seguia o seu curso ordinário, e a lua deslizava solitária por entre as nuvens cinzentas e carregadas que alastravam o céu.

Que importava, com efeito, que essa hora que soava marcasse o termo de um ano? Que importava que a fraca inteligência do homem procure limitar a obra de Deus?

O tempo corre eternamente; os dias se sucedem como os meses, como os anos e os lustros. Um século que acaba,