Rio, 21 de janeiro
Sexta-feira, era tarde da noite. Pensava, não me lembra a que propósito.
Se há coisa que dê asas ao pensamento, que solte o vôo à fantasia, é uma dessas mudas contemplações pelo silêncio da noite, quando num momento de tédio o espírito se revolta contra as misérias do presente, e procura além no futuro, ou nos tempos que passaram, um novo elemento de força e de atividade.
A imaginação se lança no espaço, percorre mundos desconhecidos, atravessa o tempo e a distância, e vai muitas vezes acordar os ecos do passado, revolver as cinzas das gerações extintas, ou contemplar as ruínas de uma cidade opulenta, de um vasto império abatido.
A história se desenha então como um grande monumento. Ao volver-lhe as páginas, volvem-se os séculos. Os anos correm por minutos. As raças que desapareceram da face da terra se levantam do pó, e passam como sombras fugitivas. Cada folha do grande livro, é o berço de um povo, ou o túmulo de uma religião, um episódio na vida da humanidade.