esta porque naturalmente se inventaram os emolumentos, que algumas vezes são bem salgados.
Já é tempo de passar adiante e acabar por hoje com as graças, tanto mais quando já me saí mal por ter tido o arrojo de dizer que o país devia dar justiça de graça.
Como me escapou semelhante blasfêmia? Pois num tempo em que tudo se compra e se vende, em que até se trafica com o pensamento e com a consciência, é possível fazer-se coisa alguma gratuita?
Tudo tem um preço. A honra, a probidade, o dever, a reputação essas coisas sagradas que Deus confiou ao coração humano, têm a sua cotação. Porque a justiça sairá da regra geral, e deixará de receber a sua espórtula?
Já se vê que foi um absurdo em caí. Não há coisa mais razoável e mais sábia, como disse um correspondente do Jornal do Comércio, do que obrigar-se as partes a pagarem aos magistrados e oficiais de justiça, visto que estes empregados são instituídos para utilidade pública.
Ora, os ministros de estado, os presidentes de província, os militares, todos os funcionários públicos enfim são criados para utilidade pública; por conseguinte, em vez de ordenado, dêem-se-lhes custas. O ministro ganhará dois mil réis por cada nomeação, privilégio, ou graça que conceder; dez tostões por cada aviso ou portaria, etc..
Não vêem como simplifica-se de repente todo este mecanismo administrativo, que a França e a Prússia - nações ignorantes e atrasadas - tanto têm estudado, e tanto seuem precisar do empregado que o pague; o governo o nomeia, o país o tolera, e nisto já fazem muito.
Quem diria que a ciência administrativa, tão desenvolvida na Europa, tinha de ser completamente aperfeiçoada por um gênio brasileiro que oculta modestamente o seu nome com receio de assombrar o mundo?