Página:Ao correr da pena.djvu/237

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Rio, 25 de março

Hoje é o dia do aniversário da nossa constituição, e ontem o Teatro Lírico representou um baile intitulado o Remorso. Se foi uma simples coincidência, ou um epigrama, não sei; o tempo não está para graças, e por isso não se pode com facilidade aventurar conjeturas.

Já houve um tempo em que, de fato, o dia de hoje devia ter sido o dia do remorso para o governo, para as autoridades, para o menor empregado de polícia; todos haviam perjurado, todos, por sede de mando ou por um espírito exagerado de reforma e progresso, haviam desrespeitado a constituição.

Felizmente passou esta quadra de tristes conseqüências para o país, e chegamos a uma época de adormecimento das paixões políticas, de inércia dos partidos, de calma nos espíritos, que, bem dirigida, pode ser aproveitada em grandes melhoramentos de que o país necessita, em excelentes reformas da legislação e de muitos outros ramos de administração.

Mal dirigida, porém, a situação atual há de caminhar rapidamente para uma crise tanto mais forte, tanto mais violenta, quanto foi profundo o letargo dos espíritos e a prostração proveniente da exacerbação das paixões.