Na opinião do espirituoso escritor, a arte de chorar a propósito é a primeira das artes, assim como as lágrimas são a única língua universal que existe na terra, e que provavelmente foi falada antes da Torre de Babel.
Quereis a prova?
Abri a boca e chorai... todo o mundo entenderá que tendes fome.
Chorai e bebei as lágrimas; e logo se conhecerá que estais morrendo de sede.
Levai a mão ao coração e chorai olhando uma mulher; e ela compreenderá que a amais.
Erguei ao céu os olhos rasos de prantos, juntai as mãos; e ninguém deixará de entender a prece muda de uma alma infeliz.
Voltai as algibeiras e deixai correr algumas lágrimas; e logo se verá que não tendes dinheiro nem crédito.
Uma lágrima isolada, que pende da pálpebra, e corre lentamente por um rosto pálido e triste, exprime uma dor silenciosa e concentrada; é como uma gota de fel que verte o coração.
Duas lágrimas límpidas que empanam às vezes o brilho dos olhos, e se desfilam docemente pelas faces, dizem uma saudade, uma suave recordação.
O pranto e os soluços são a expressão do desespero, assim como uns olhos rasos de lágrimas e um sorriso revelam o momento da suprema felicidade deste mundo.
E entretanto, apesar do poder irresistível desta linguagem universal, todo o mundo trata de rir, e ninguém sabe chorar. As lágrimas vão caindo em desuso; e apenas nas despedidas e nos enterros ainda se usa, bem que raras vezes, deste meio persuasivo.
O Sr. Ministro do Império na sua reforma da instrução pública esqueceu-se de criar uma aula especial desta arte, ou desta língua, como quiserem. Num tempo em que o ensino se multiplica, em que há escolas para tudo, é imperdoável que não exista uma escola onde se aprenda a chorar a propósito.