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Página:Ao correr da pena.djvu/275

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O homem, porém, tomou o negócio ao sério; e, portanto, estou perdido. Que será de mim a lutar com uma pena que escreve com tinta simpática, e que por conseguinte tem a amizade de todo o mundo?

E por onde foi começar? Pelas minhas celebérrimas erratas! Que há de ser de mim? Fui meter-me no orçamento, eu que não estou habituado a somar o dinheiro da nação e a contar os emolumentos que às vezes se percebem pelos requerimentos das partes. É bem feito que o mestre me dê o quinau.

Demais, ele tinha justa razão de zangar-se. Eu ofendi-lhe um privilégio exclusivo, usurpei-lhe um direito sagrado, ataquei um elemento essencial de sua existência, esbulhei-o de um brevet de perfection , tirei-lhe um monopólio que ele exercia, enfim, errei sem pedir-lhe vênia e permissão.

E, antes que o ofenda segunda vez, vou mudar de assunto e falar de outras coisas.

O governo contratou finalmente a construção de um teatro com a primeira empresa que para este fim se organizou. Era tempo, porque o Provisório começa de novo a revoltar-se contra a permanência.

Na segunda-feira alguns barrotes do soalho entenderam que, estando passados os três anos de existência, tinham todo o direito de apodrecerem e partiram-se. E assim o fizeram, dando ao governo e à empresa um grande exemplo de exatidão e lealdade no cumprimento dos contratos.

A polícia, que assistiu ao fato, registrou-o, e, como o soalho estava no seu direito, assentou que seria uma violência inaudita o contrariá-lo.

Vejam que respeito se vota entre nós à lei dos contratos! Que boa-fé preside às convenções! O Teatro Provisório pode cair em cima das nossas cabeças, e ninguém tratará de prevenir semelhante desastre; porque enfim o edifício só tem obrigação de existir três anos e estes três anos estão concluídos.

Assim, pois, estamos bem servidos de teatros líricos; um está em projetos, o outro em ruínas. Veremos quem ganha a aposta: se o novo se construí antes do velho cair.