Rio, 27 de maio
Desculpai-me!
Vou contar-vos uma coisa que me sucedeu ontem: é um dos episódios mais interessantes de minha vida de escritor.
Aposto que nunca viste escrever sem tinta!
Pois lede estas primeiras páginas, compreendereis como aquele milagre é possível no século atual, no século do progresso.
Eis o caso.
Foi ontem, por volta das dez horas. Estava em casa de um amigo, e aí mesmo dispunha-me a escrever a minha revista.
Sentei-me à mesa, e, com todo o desplante de um homem, que não sabe o que tem a dizer, ia dar começo ao meu folhetim, quando...
Talvez não acrediteis.
Tomei a pena e levei-a ao tinteiro; mas ela estremeceu toda, coitadinha, e saiu intata e pura. Não trazia nem uma nulidade de tinta. Fiz nova experiência, e foi debalde.
O caso tornava-se grave, e já ia saindo do meu sério, quando a pena deu um passo, creio que temperou a garganta, e pediu a palavra.
Estava perdido!