Página:As Minas de Prata (Volume I).djvu/105

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— O papel diz, respondeu Lucas.

O advogado rompeu o selo, augurando mal daquela estranha missiva; a carta continha estas palavras:

Pessoa que tem razão de segredo, muito deseja aconselhar-se com o senhor licenciado. Não permitindo seu sexo e posição que o procure ela, pede para vir à sua casa esta mesma noite de hoje, depois do sino de recolher. Um escravo fiel acompanhará sua mercê.

— Senhor vai? perguntou Lucas, vendo o advogado dobrar lentamente o papel.

Vaz Caminha fitou os olhos vivos na face do negro; sentiu um ligeiro estremecimento, recordando a cena misteriosa da adega; não obstante respondeu com a voz clara, ainda que um tanto baixa:

— Irei, filho, irei!

— Depois do sino?

— Onde te encontrarei?

— Na bodega, respondeu Lucas.

— Aqui serei a ponto.

Não foi sem inquietação, sem medo, digamos francamente, que Vaz Caminha se meteu naquela arriscada aventura; porém o advogado tinha, em falta da coragem física, a coragem moral dos homens de