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Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/124

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apenas, não já vivente, errava ainda, penando como os duendes dos contos populares.

Após esta, veio outra alucinação. Pareceu-lhe que mão de ferro, gelada e fria, pousava no peito de seu cadáver, e arrancava fora o coração, e fugia pela treva. E ele pôs-se a seguir essa mão, caminhando sem sentir.

Tirou-o desse pesadelo uma voz infantil, que lhe falava. Era a voz de Gil, parado em face dele, com um cavalo à destra.

— O senhor licenciado mandou-me esperar o cavalheiro, pois já não havia precisão de mim. Como estivesse aqui à mão o cavalo fui buscá-lo, e bem fiz, que já é tarde muito! Cuidei que não acabava mais hoje de esperar!...

Estácio não ouvia o pajem. Escutava o rumor das palavras; reconhecera o menino, mas só a pouco e pouco foi voltando à realidade, de que escapara por tantas horas. Volveu o olhar pelo sítio onde se achava; era a calçada do palácio, à qual viera como dela se fora, sem consciência.

Então lembrou-se do que sucedera. Via diante um abismo negro e imenso, no qual ele se afogara e surgira enfim. Na margem de além a