Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/125

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sua felicidade perdida; aquém, na outra margem, ele transido e extinto.

Que tempo levara a debater-se no abismo antes de transpô-lo? Quantas horas ou quantos anos aturara essa agonia? Que passara durante no mundo a que pertencera, e na cidade onde habitara?

Fitou Gil; observou a fachada dos edifícios. Procurava ele com este exame ver se o menino tinha envelhecido ou as construções desmoronado em ruína?

— O sarau?... exclamou afinal.

Nesta interrogação havia um poema inteiro, uma elegia. Era a história de seu amor, cujo triste epílogo fora aquele sarau; era o casamento de Inesita aí anunciado; era a ventura de seu rival escarnecendo do infortúnio dele, Estácio; era o passado e o futuro.

— O sarau?... respondeu Gil. Quanto há que de lá partimos! Ainda era em ontem!

— Serão que horas?

— É noite alta. Se os galos já cantaram a primeira vez!...

O moço deu alguns passos maquinalmente; o pajem ouviu-lhe palavras soltas, murmuradas consigo.