com a leitura de algum capítulo da obra, e trocaram um olhar de espanto e medo. Só o P. Inácio conservara-se indiferente a tudo; apenas algumas vezes seus lábios finos comprimiam-se como para reter uma palavra que iam pronunciar.
Enquanto o padre-mestre espanava o pó da capa de pergaminho do velho alfarrábio, o assistente fazendo uma cara de aborrecimento, parecia revestir-se de boa dose de paciência: preparava-se para cumprir dignamente o seu penoso encargo de superior, obrigado a ouvir todos os pareceres, e a não desprezar nenhuma informação que pudesse favorecer os interesses da Companhia.
Sacudido o pó, o P. Soares alisou os raros fios de cabelos da imensa calva, encheu as bochechas, afinou a garganta, e retraindo o corpo, levou a mão à capa do livro com a emoção do autor que revê depois de muito tempo o fruto de seu trabalho e o filho de suas elucubrações.
O conclave estremeceu de novo; pressentiu que a borrasca ia desabar na forma de algum prólogo monstruoso, recheado de textos e citações; e os há tão longos que usurpam o espaço necessário ao desenvolvimento da obra, e tão insulsos que fazem perder o gosto do livro antes de o ler.