Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/175

Wikisource, a biblioteca livre

Ainda uma vez absorveu-se na leitura da folha arrancada ao manuscrito, como se a quisesse decorar; depois abrindo o missal, copiou em cifra, de que só ele tinha a chave, o contexto da página.

Então a chama da luz que o esclarecia devorou lentamente a folha do manuscrito, cuja cinza pulverizou a mão prudente do jesuíta.

O P. Gusmão abriu o postigo da janela; a fresca brisa que impelia o pirajá da Ponta do Padrão refrescou-lhe a fronte abrasada pela vigília e por fundas meditações.

Longe recortavam no escuro do horizonte as colinas de Itaparica; sobre a polida face do mar passavam, como frouxos reflexos das estrelas, as velas dos barcos pescadores, que já se aproximavam de terra.

Nem mais burburinho de festa, nem mais rumores do mundo.

A cidade repousava fatigada das emoções da véspera, enquanto a natureza plácida se preparava para a festa serena do nascer do dia.

Interrompeu a meditação do visitador uma forte pancada vibrada na porta larga do convento por mão robusta e insôfrega. O jesuíta debruçando-se à janela