Página:As Minas de Prata (Volume II).djvu/90

Wikisource, a biblioteca livre

suspirando, com os olhos voltados para o palácio. Não te fazem inveja? Não estimarias também ter a tua dama, Gil?

— Ixe! Eu cá penso nisto! disse o travesso pajem afastando-se.

— Até amanhã!... gritou a alfeloeira.

— Guardas-me alguma coisa?

— Vê-lo-ás.

— Pois sim.

Gil correu a alcançar o licenciado que de fato quebrara a esquina; Joaninha voltando-se deu com Tiburcino.

O magarefe estava sombrio e torvo como uma borrasca prestes a desabar; a testa breve e estreita desaparecia franzindo e caía-lhe sobre os olhos pequenos mas vivos; os beiços grossos, fendia-os uma coisa entre carranca e riso, arreganho de dentes, que gelava a medula dos ossos.

Fitando na moça a vista ameaçadora, arrancou a custo da garganta voz surda e cava, antes rugido de fera:

— Sabe-se já por quem vos morreis de amores!

— Quem? perguntou a alfeloeira pálida e trêmula.