Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/107

Wikisource, a biblioteca livre

avultados lucros de alguns. Cada qual contava como lhe fora a sorte, e todos tinham dela as queixas mais acerbas.

— É tal qual vos digo, Antão gajeiro! repetiu o espadachim. Aforrado como me vedes podia estar hoje nadando em ouro! Assim não fora eu mal-aventurado!

— Escapastes de fisgar o arpéu nalguma boa presa, capitão? perguntou o marujo.

— Não faltam elas naquela terra excomungada!... observou o rapaz.

— Não faltam, não, muchacho! O diabo é não haver justiças que guardem as costas de um homem!... tornou o soldado. Quando a gente é atacado pela frente e lealmente, o juiz é a espada; morre-se em boa guerra! Pero, isso de estar um cristão à mercê de gentio e outros que tais degradados, a tremelicar sem saber de que, vendo a hora que uma seta o manda desta para melhor!...

— É assim mesmo!

— Isso não é terra em que se viva! Melhores juízes lhe ponha El-Rei, se quiser que lá medre a boa gente de espada para o seu real serviço!

O aventureiro empinou a botelha e afogou o suspiro com uma formidável golpada.