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Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/184

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um dia ser esmagado pelo descalabro das antigas e aluídas construções.

Na nesga do campo, que mediava entre as linhas de fortificações e a margem do fosso, não havia outra habitação; e como a vereda que serpejava entre o matagal até o arrabalde do Carmo era rodeio e não atalho, raros passantes atravessavam aquele ermo; o que sucedia de ordinário entre uma e quatro horas, quando era o caminho protegido do sol pela sombra da montanha.

Sexta-feira, seriam oito horas da manhã, andava no terreiro da casa a feiticeira Joaninha. Trocadas as vestes de princesa pelos trajes de rapariga do povo, já pela manhã voltara ao mister cotidiano. Volvia de um a outro lado, entrando ou saindo, com a graça e a sutileza de uma perdiz que fabrica o ninho. Fabricava ela também os confeitos e alcorças, donde tirava o pão de cada dia e a escassa reserva para os tempos difíceis.

Aqui estendia à seca em tabuleiro os doces já feitos, ou esfriava as fôrmas em vaso d’água; lá recortava flores na pasta de açúcar estendida sobre a mesa, ou batia o mel para dar-lhe a alvura deslumbrante do alfenim e dele esculpir