figurinhas de frutos, árvores e animais. Enquanto porém os sentidos estavam todos à ocupação, parece que o pensamento andava longe, a julgar pelo tom submisso com que estava a cantarolar, tanto havia, a mesma letra de uma quadra, sempre e sempre repetida:
“Ele vai, ele vem,
Inda cá não chegou!...
Mal sabe onde seu bem,
Seu benzinho ficou.”
Entanto, um rapazito desembocando da Rua de São Francisco, galgou de um salto o lombo da muralha em ruínas, e seguiu rápido com tanta segurança, como se andara sobre chão aberto; e estava ele ainda tonto do sono, e esfregava os olhos encandeados com a claridade do dia. Vinha apressado; de instante a instante sem parar enfiava pelas frestas dos dedos uma vista ao céu, para ver a altura em que andava o sol.
Chegando a cavaleiro da casa, avistou ele à rótula do sótão uma velha gorda, de cabelos brancos, que recortava à tesoura umas estrelinhas de pão de ouro e prata, naturalmente destinadas a enfeitar os confeitos da alfeloeira.