Nesses movimentos desencontrados, nesses ímpetos infantis, quantas vezes o corpo gentil da mulatinha foi enlaçado pelos braços do pajem, quantas suas mãos se tocaram e suas faces roçaram uma na outra! Afinal desfalecida com a fadiga, Joaninha deixou-se cair sobre o banco, escondendo no seio o coração. Gil não hesitou; meteu a mão no talho do vestido e tirou o presente que agitou no ar em sinal de triunfo:
— Não te disse eu, que o havia de tomar?
— Se era teu já... Tanto há que to dei!... Esse que aí está, Gil, é o meu coração.
— Quantos tens então, Joaninha! Com este, andam pela dúzia os que já tenho manjado; nenhum, é certo, tão gostoso como este!...
— Sabe-te ele bem?... Pois o mais gostoso, ainda tu não provaste.
— Qual ele é? Dá-mo cá!
— Dar-te, dava-te mesmo, se já não to dei; mas tu não gostarias dele!
Joaninha suspirou outra vez; e Gil, que depois de devorar o doce, lambia os beiços, ouvindo tanger o sino de São Francisco, estremeceu e demudou-se:
— Queres tu que te diga eu, Joaninha, uma coisa?...