que vai tinto lave-o com as lágrimas que derramaria por seu irmão; pois são o resgate delas.”
“Durante que estas coisas passavam, Flor de Beleza, triste sim, mas não suspeita dos perigos que ameaçavam seu gentil cavalheiro, bordava no seu mirante uns lavores mui lindos, que eram um primor de agulha. Quis então sua estrela que aparecesse à porta do palácio uma velha, mui velhinha, com um balaio como este, cheio de confeitos para vender, pedindo que a levassem à presença de Flor de Beleza. Mas era a velha tão horrenda, que não lhe consentiriam, mesmo quando o recato da princesa permitisse ver gente estranha. O mais que fizeram foi levar o balaio dos confeitos à princesa, a ver se agradavam a seu real prazer.
“E sucedeu um caso pelo qual logo se viu que eram encantados os confeitos e foi que o pajem que os levava, de caminho, querendo meter o gadanho para filar alguns, achou-os em brasa; e gritou por tal forma que ali acudiu El-Rei, a rainha e todos os grandes do palácio. Informado o caso, riram do pajem, porque não havia brasas, senão confeitos muito claros na cestinha; porém maior foi o pasmo quando sentiram também chamuscada a ponta dos dedos, assim como quiseram