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Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/220

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Nesse ponto da história entrou D. Francisco de Aguilar, que acudia à visita do frade; e logo começaram ali uma prática em meia voz. Inesita pendera a fronte sobre a tela do bordado, e uma lágrima, que a seu pesar estalou dos olhos, rolou como aljôfar pelo cetim verde.

— Anda, rapariga.

— Aguardou o cavalheiro o desafio com tenção feita; e essa foi de pôr sobre o coração a prenda que lhe dera Flor de Beleza, e enfiar-se por aí na espada do infante e cair dela trespassado.

Inesita soltou um grito de horror; mas Joaninha que já contava com ele, estava preparada. De um revés da mão atirara um dos seus balaios de cima da banquinha ao chão, e tal escarcéu fez e tal rumor de susto e risada para apanhá-lo, que ninguém se apercebeu do ânsia e pavor da donzela.

— A pensar assim, foi o cavalheiro lá consigo dizendo: “Morrerei nela, dela e por ela. Nela porque esqueceu este triste; dela porque virá o golpe de quem tão conjunto lhe é; por ela, a fim de não magoá-la com a memória de sua inconstância”. E chamou seu pajem e disse-lhe: “Pajem fiel, quando me vires trespassado, levarás esta prenda a Flor de Beleza, e lhe dirás que o sangue de