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Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/72

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— Vai, querido, vai. Tu levas a graça de minha alma; eu te guardarei, senhor meu, a flor desta pobre beleza minha.

Seu lábio embebeu-se no lábio do esposo; e ficou ali suspenso como um fruto que o bico lascivo do pássaro colheu na haste. Depois que libou o mel, o pássaro bate as asas, e o fruto pende murcho e eivado. Assim desfaleceu Dulcita, quando seu noivo precipitando a partida, arrancou-se ao beijo, e partiu. Ele levava-lhe o âmago de sua alma, o doce mel de sua felicidade, seu amor, sua vida.

Voltaria ele a restituir-lhe quanto levava?

Vilarzito não voltou o rosto, com receio de ceder à emoção; foi por diante trilhando as margens do rio, cantarolando qualquer seguidilha. A menina, seguindo-o de longe para ouvir algum tempo ainda a voz amiga, sentia minguar-lhe a vida à proporção que essa voz desfalecia com a distância. Afinal caiu extenuada à beira do caminho.

Era noite alta quando recolheu-se a casa, onde achou a aflição que causara o súbito desaparecimento. As velhas se lamentavam rezando; o pai mal entrara das caminhadas que dera em procura da filha querida.