Página:As Minas de Prata (Volume III).djvu/99

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Muitos anos havia que ele tinha deixado para sempre o lindo casalinho. A miséria em parte forçara o campônio a vendê-lo, e em parte também as tristes e agras reminiscências de que estava tão cheio. Vieram então pai e filha habitar na cidade de Palos o quarto de um velho casarão, onde aposentava gente da terra e também colonos e forasteiros que embarcavam para as Américas ou de lá tornavam.

Muitas vezes, tentado dos contos fabulosos que faziam os aventureiros e marujos, pensara Ramon em passar-se à colônia à busca de riquezas, com que supunha poder comprar para sua filha uma felicidade, em troca da outra, para sempre e sem remissão perdida.

Dulce porém, quando ele comunicara seu intento, recusou obstinadamente:

— Não, pai; nesta terra, onde ele repousa, quero eu também repousar. Teremos este mesmo frio leito, já que o céu negou-se a abençoar o outro para o nosso amor. De que me valem a mim riquezas? Vende acaso a terra o que roubou e já consumiu em pó?

A patroa da locanda era uma velha a quem a beleza de Dulcita ganhara logo os afetos e que não se cansava de admirá-