Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/14

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me cá o escrito do cavalheiro para que o aponte em minhas notas.

Era com efeito o vale, que o alferes passara sorrateiramente à moça pensando ser a carta de namoro. O velho e fino judeu, desconfiado com o negócio da janela e mais do beijo, não perdera de olho o oficial enquanto ele escrevia; viu-o pois fazer dois bilhetes e dobrá-los fechando ambos na palma. Usou então de ardil; ao apresentar-lhe o moço o vale, fingiu haver engano que realmente não havia; desconcertado o alferes, como era natural, mais que depressa arrecadou esse, dando-lhe em troca o recado de namoro, que era quanto desejava o judeu.

Esse então pareceu absorver-se na leitura para dar ocasião ao cavalheiro de fazer a sua estratégia; logo que o vale se achou em segurança na mão da moça, tranquilo a respeito do seu dinheiro como a respeito da filha, consumou a transação.

Entretanto o alferes, depenado na bolsa e logrado nos amores pelo velho judeu, seguia rua acima até a Praça do Palácio, donde quebrando a Travessa da Sé, ganhou a bodega do Brás, ainda nessa noite, como na de Ano-Bom, cheia de alegre freguesia e procurada