Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/216

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“A um gesto do fidalgo, ele tomou o espojo do cavalheiro e desceram ambos ao horto. Cavaram toda a noite; a cova recebeu dois cadáveres, o do cavalheiro morto e o do africano vivo. No dia seguinte, da cena lúgubre, que se representara nessa casa, não apareciam vestígios.

“A dama perdera a razão; meses depois a recuperou com a consciência de uma dor maior, se é possível, de que sofrera. Sentiu que um ente vivia em suas entranhas; e recordando a noite fatal e o sonho horrível que a precipitara na demência, só o heroísmo da maternidade pôde jungi-la à vida ignominiosa que lhe fizera a brutal e espantosa vingança do marido. Viveu para esse novo filho do ódio, como dantes vivera para o filho do amor. E, como são impenetráveis os arcanos do coração!... Essa criatura, fruto de uma quase bestialidade feroz, ela a adorou com extremos de ternura, ainda antes de nascer! Quando o instante do livramento aproximou-se, suspeitando que o marido quisesse ainda estender sua insaciável vingança à mísera criatura, com o auxílio de uma escrava dedicada a enjeitou.

“O fidalgo rugiu de cólera com o desaparecimento; porque essa criança contava ele que