Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/222

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pelas persianas dos balcões, a essa hora próxima da noite.

D. Fernando ergueu-se ameaçador, e caminhou para Vaz Caminha:

— Qual é vossa tenção, senhor? perguntou com a voz trêmula.

— Já que Deus pôs em minha mão esta arma terrível, usarei dela para castigar o vosso coração mau, e assegurar a felicidade de um mancebo virtuoso e bom.

— Então o que outrora vos pareceu indigno da vossa profissão, por ser mister de algoz, não vos repugna praticar agora?...

— Outrora vossa mãe vivia e éreis vós uma inocente criança; hoje a mísera senhora faleceu, e vos tornastes um mau homem, soberbo e vão. Também eu mudei; como advogado e homem de lei, recusei o mandato; como instrumento, inda que humilde, de que serviu-se a Providência para recompensar a virtude e punir o vício, não me posso eximir a um dever sagrado. Corrigirei a obra de ódio e vingança tornando-a em lição de justiça e verdade, tirando-lhe a solenidade do escândalo. Se não renunciardes para sempre à mão de D. Inês, seu pai saberá a história