Página:As Minas de Prata (Volume IV).djvu/243

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a esse assunto para ocupar-se do outro mais importante da sua evasão.

Ele estava mais do que nunca decidido a readquirir a sua liberdade para disputar Inesita a D. Fernando, e o roteiro ao P. Gusmão de Molina. Acudiu-lhe então o velho meio tão usado desde que se inventaram as prisões: atirar-se ao carcereiro quando viesse à sua visita habitual, e subjugá-lo amordaçando-o; trocadas com ele as vestes, passar assim disfarçado entre as sentinelas, ganhar as ameias e fugir a nado.

Esse projeto arriscado tinha contra uma circunstância que o moço ignorava: nas extremidades do corredor circular que cingia os cárceres, havia duas sentinelas constantemente dia e noite; e tal era o rigor da disciplina e cautela, que o próprio carcereiro não podia passar por elas uma só vez sem trocar o santo. Aí portanto, de encontro à alabarda das sentinelas, devia esbarrar-se o insensato arrojo do mancebo; mas ele, ignaro e descuidoso do risco de sua empresa para só embalar-se na esperança do sucesso, continuava a cogitar nos meios de levá-la ao cabo.

— O carcereiro, segundo presumo, visita os cárceres duas vezes por dia; a primeira por manhã,