Página:As Minas de Prata (Volume V).djvu/121

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ouviram-se imprecações e juras embaixo das janelas.

Elvira apesar de prevenida não podia reprimir o terror que a congelava, quando a porta da câmera abriu-se, e Cristóvão deitando-se a ela, a cingiu nos braços, afogando contra o peito a exclamação que exalaram os lábios da donzela.

Sentados no estrado, onde quinze dias antes os tinha surpreendido a viúva, já nem se lembravam dos maus dias passados; dir-se-ia ao vê-los tão prazenteiros, que dissipado o cruel pesadelo, eles continuavam aquele interrompido colóquio, antes transfusão recíproca de duas almas. Tinham tanto a dizer, e tão pouco a contar! A noite embebeu no vasto âmbito tantas meiguices ternas e suaves queixas, que os dois corações influíam e refluíam um no outro, como a veia serena de um lago ondula de uma a outra margem.

E o tempo fugace voava; as horas da noite desfiadas uma após outra caíram; o primeiro vislumbre da alvorada palejou as sombras escuras do horizonte.

— É tempo de ir-me, Elvira minha!

— Já, Cristóvão! disse a donzela estremecendo.